Algumas considerações sobre o adoecimento estudantil no contexto universitário

 

 

Algumas considerações sobre o adoecimento estudantil no contexto universitário

Por Deniz Menezes

Assistente Social NAPP-FOUFBA

 

O ingresso no ensino superior acontece, principalmente para grande parte dos estudantes, na transição da adolescência para a vida adulta, sendo este processo marcado por profundos desafios, perpassando por dimensões pessoais, interpessoais, de carreira, estudo e institucional.  Nesta fase, a responsabilidade pelo aprendizado deixa de ser exclusivamente da escola para centrar-se no estudante; a vivência entre as expectativas alimentadas durante o ensino médio e as experiências vivenciadas na Universidade; a mudança das redes de amizade e de apoio social, entre outras. Tudo isso exige do estudante um “repertório individual e um remanejamento de rotina para o ajustamento acadêmico”, uma vez que os estudos são combinados a “uma série de tarefas psicossociais normativas da juventude.” (PINHO; TUPINAMBÁ; BASTOS, 2016).

 

Portanto, o ingresso e a permanência na Universidade representam uma experiência complexa para o adolescente e o adulto jovem. Trata-se de uma fase marcada por muitas expectativas, exigências e tomadas de decisão que, em tese, definem o seu futuro pessoal e profissional frente a uma sociedade e um “mundo do trabalho” cada vez mais instável, complexo e desafiador. Assim, estes precisam se adaptar a uma nova rotina, muitas vezes exaustiva, às pressões cotidianas, ao acúmulo de tarefas e novos métodos de ensino-aprendizagem.

 

Em estudo de revisão sistemática da literatura para conhecer os fatores desencadeantes de estresse, Síndrome de Burnout (SB) e Transtornos Mentais Comuns (TMC) em graduandos da área da Saúde, os autores referem que a   rotina   estudantil   dos   graduandos   pode   ser   comparada   à   da   classe trabalhadora em relação a quantidade massiva de horas que são dedicadas às atividades. Estes referem ainda que quando não há equilíbrio na forma de lidar com as cobranças das atividades curriculares e extracurriculares, somado à indisponibilidade de atividades de lazer, o estudante, assim como o profissional, torna-se mais vulnerável ao desgaste emocional, fadiga, distúrbio de sono (Souza; Caldas; Antoni,2017).

Corroborando com a afirmação acima, Ventura (2018) refere que a grande quantidade de demandas acadêmicas, as exaustivas exigências de produtividade universitária, o cumprimento de demandas que são específicas desse nível de educação superior, apresenta-se como um dos motivos importantes para o adoecimento dos discentes, ocasionando frequentemente estresse e ansiedade.

 

Em estudantes de Odontologia, um estudo realizado na Universidade Estadual de Ponta Grossa no ano de 2013.aponta que a prevalência do estresse de 46% entre os acadêmicos do primeiro ano e de 55% entre os concluintes, ao final do semestre o achado foi de 70% e 60% respectivamente (Langoski, J.E.; Klipan, L.B.; Souza, J.A.; Ferracioli, M.U.; Fadel, C.B.; Bordin, D, 2013). Portanto, estes dados apontam para um aumento dos fatores estressantes no final dos semestres que podem ocasionar ou agravar o sofrimento emocional dos estudantes.

Assim, faz-se importante que toda a comunidade universitária possa pensar estratégias que estimulem o bem viver dentro da Universidade, principalmente contemplando ações humanizadas de promoção da saúde e mecanismos de prevenção de agravos. 

 

Bibliografia

 

1.Pinho APM, Tupinambá ACR, Bastos AVB. O desenvolvimento de uma escala de transição e adaptação acadêmica. Revista de Psicologia jan/jun 2016; 7(1): 51-64.

2.Souza, MR; Caldas, TCG; Antoni, C. Revista. Psicologia e Saúde em Debate. ISSN-e2446-922X. Jan., 2017:3(1):99-126. 

3. VENTURA, C. M. O adoecimento dos discentes na Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto: 2018

4. Langoski, J.E.; Klipan, L.B.; Souza, J.A.; Ferracioli, M.U.; Fadel, C.B.; Bordin, D. Influência da trajetória acadêmica sobre o estresse e a percepção de estudantes de Odontologia. Revista de Odontologia da UNESP. 2014; 43(N Especial):253

 

 

Revisado por Lana Bleicher

Docente do Departamento de Odontologia Social e Pediátrica 

Presidente do GT de Comunicação/FOUFBA